Por Julio Bruno
Minhas postagens aqui sempre buscaram divagar
sobre a realidade, mas sem citar e explicitar diretamente, fatos e
acontecimentos. Hoje, 31 de maio de 2020, como geralmente faço no último dia de
cada mês, busco fazer minha postagem reflexiva e que de alguma forma leve você
aí do outro lado a pensar e refletir um pouquinho. Porém dessa vez me vejo na
obrigação de ir além e levar até você o que realmente aconteceu até aqui em
2020 numa tentativa maior de aproximar os pensamentos a realidade pela qual
passa a humanidade, sem necessariamente me ater a uma fidelidade exata quanto
as datas, mas na tentativa de seguir a cronologia das mesmas.
Foto ilustrativa : internet
O ano de 2019 foi
o mais odiado e demonizado de um ciclo que imaginávamos que estava se fechando,
não que não tenham acontecido coisas boas, sim elas aconteceram. Mas em geral o
ano foi marcado por má notícias e perdas de pessoas queridas. Ao brindarmos o
novo ano, 2020, não imaginávamos o que estava por vir...
A virada de ano já prenunciava muitas
mudanças, ao contrário daquela correria com viagens para lugares mais
desejados, muitas pessoas preferiram ficar em casa e dar adeus a 2019
descansando um pouco também, cuidado tão necessário que nem imaginávamos. Mas
sabe-se que nem todos tiveram a mesma ideia. Aqui no Brasil, em Minas Gerais
particularmente já vivíamos uma situação diferente, em que pessoas foram
vítimas de uma contaminação por cerveja, fato que não havia ganhando muito
destaque, visto que nessa época são comuns as chamadas “intoxicações
alimentares” quando as pessoas exageram um pouquinho e saem da dieta. O janeiro
já mostrava o que estava por vir e que mortes seriam provocadas pela ingestão
da cerveja contaminada.
As chuvas que tiveram início em novembro e dezembro
se estenderam também ao janeiro chuvoso, provocando temor na população como no
caso da cidade de Governador Valadares, no leste de Minas Gerais, que já se
preparava para o pior, mas sem nenhuma certeza do que chegaria de forma
avassaladora no final mês, a enchente. A cheia do Rio Doce no leste de Minas, deixou
ilhados em diversos bairros da cidade, outros ficaram debaixo d’água, como se
diz. Moradores ilhados, perderam seus pertences e bens, ali a cidade mineira
lidou com água de qualidade duvidosa, com situações inóspitas, em que contou
com a solidariedade entre as pessoas, que vinha até mesmo de outras cidades. E
viu que a água e sabão que iriam lavar a lama da enchente, era um remédio
contra o vírus que estava chegando aos poucos no mundo, um novo coronavírus que
surgiu no interior da China e que já havia infectado ao menos mil pessoas. Um
médico que tentou alertar sobre a doença logo no início viria a morrer dias
depois pela doença, que se alastrava.
Nessa mesma semana da enchente, já se sabia
sobre essa tal epidemia que tinha surgido na China e que poderia ter sido
transmitida pelo consumo da carne de animais de um mercado da cidade de Wuhan.
Pensava-se até então que a situação era apenas restrita a China, ledo engano.
Jornalistas, começávamos a estudar o assunto, e mesmo com pouca visibilidade, como no meu
caso, tentei falar do assunto em meu jornal na TV, o assunto começava a ganhar
a atenção da mídia internacional, da Organização Mundial da Saúde, e de repente
começou a ultrapassar as barreiras continentais com os primeiros casos nos
Estados Unidos, Reino Unido e Itália.
No Brasil em fevereiro, mais chuva, mais medo
de enchente, mas o calor do Carnaval era iminente, neste ano, ano bissexto,
carnaval na última semana de fevereiro, chegou-se ao debate se cancelava ou não
o carnaval. No leste de Minas impactado pelas chuvas, cancelou-se, mas no
restante do país a festa tinha que continuar, até então o medo da doença vinda
da China já se espalhava entre as pessoas mais informadas e temerosas, e muitos
preferiram se afastar das aglomerações, festas e viagens.
Passado o Carnaval, as notícias não eram nada
boas, a Itália, como praticamente toda a Europa central, e já estava sentindo os efeitos da epidemia que
se tornava agora uma pandemia. Brasileiros que foram repatriados em fevereiro,
já estavam em quarentena no mês de março, e muitos outros retornavam ao país
que logo começou a ter seus casos ''importados’’ com origem principalmente na
Itália. A China vivia seus piores momentos, mas buscava soluções para a doença,
‘’lockdown’’, testes, e tudo mais, assim como os tigres asiáticos que foram os
mais velozes em realizar testes sobre a doença desconhecida, medir temperaturas
para se diagnosticar a síndrome respiratória aguda grave SARS Cov 2 , ou novo coronavírus-Covid-19. A Europa já estava entrando no que mais
tarde
viria a ser chamado de “Lockdown”, confinamento em massa para se evitar
contaminação.
O Brasil já tinha seus primeiro caso, o
segundo, o terceiro, e março com seu jeito ariano nos obrigou a tomar atitudes,
o medo era constante e em meados de março, os discursos e as dúvidas, a
desconfiança e as notícias falsas só aumentavam, por não sabermos na verdade o
que iriamos fazer, por sabermos das condições nada ortodoxas de nossa rede
pública de saúde em oferecer materiais e equipamentos para socorrer as pessoas
vítimas de uma pandemia. Em meio a uma quaresma da fé cristã, iriamos iniciar
uma quarentena pelo nosso próprio bem. E começou-se o reles discurso do contra
X favor. E o discurso político polarizado e o medo de uma crise financeira.
Abril chegou e foi duro, bateu forte em nossas
vidas, nos fez reinventar, nos fez buscar respostas, ter fé, discordar e,
brigar por aquilo que achávamos correto para nossa proteção e do próximo, que
era ficar em casa, ou pelo menos tentar ficar, e achar soluções e lavar as mãos
várias vezes, nos abastecer de álcool em gel o dia todo, e buscar nas máscaras
de pano, um refúgio, uma proteção. Veio a busca pela conscientização do distanciamento
social, a diversão pelas redes sociais e a busca de socorro pelo temor
da fome e do desemprego, e na busca por
medidas assistenciais, que deram um verdadeiro nó nas cidades cheias de
fila, e no coração de quem via, quem realmente estava sofrendo os maiores
impactos dessa pandemia. Mas de norte a sul, o Brasil não falava a mesma
língua, misturou-se política com um caos na saúde pública. A pomba da paz, já
havia trazido resposta para muitos países, como na arca de Noé, após os 40 dias
de dilúvio, e o nosso barco continuava a naufragar.
Maio veio com um professor, que ao final do
ano nos fala: Você foi reprovado! Não deu o seu melhor. Muitos deram, mas não
foram ouvidos, muitos adoeceram e se recuperaram, e muitas mortes vieram, luto
e tristezas, mas também muitas discussões desenfreadas entre pessoas que
deveriam comandar o navio e não o deixar naufragar. Maio se finda com a
sensação de que estamos perdidos, em meio a tantas ideias, questionamentos,
protestos, insanidades, desentendimentos, e tantas coisas ruins que foram
acumuladas até o momento neste ano, mas que de alguma forma mudamos nossos
conceitos e nossas atitudes em relação a muitas questões, sejam elas pessoais,
familiares, em relação ao trabalho, a sociedade em geral. Passamos por um
momento de ruptura de ressignificação e de aprendizado, dentro da própria
caixa. Passamos a nos aceitar mais, a nos podar, nos reinventar, numa pandemia
de um coronavírus cruel, e em um mundo
de valores cruciais a um ser humano de bem, abalados! Cabe-nos buscar respostas
em junho, se até aqui, elas não foram encontradas...